abril 11, 2012

Comunicado!

Galera, peço desculpas pelo sumiço aqui e nos blogs amigos, mas é que além de estar dedicado a outras causas, não menos importantes, tenho passado por algumas crises pessoais. Logo as coisas se normalizam. 
Mas não abandonarei o Diário. Assim que conseguir conciliar, escreverei aqui de novo.

Abração para todos!

P.S. 2014: Organizei as postagens por ordem cronológica agora para facilitar a compreensão. Postei algumas que estavam inacabadas ou não havia incluído ainda na época. Segue a última parte da trilogia Investida, e a continuação de Vivendo como hétero: Pegando todas; e ainda uma nova trilogia que tinha escrito para outro blog: Amor calado I, II e III.

abril 04, 2012

As brumas do amor

Daí que revirando os arquivos do coração, me lembrei dele. Pode não ter sido a grande chama da minha vida, mas foi o mais próximo do significado de amor que senti. Acho que o conheci num site de relacionamento. Abel. Trocamos contatos, conversamos, nos vimos pela webcam, e parece que ambos estávamos satisfeitos com o que havíamos encontrado. Me lembro ainda daquele domingo de jogo do Brasil pela Copa da África, quando enfim nos conhecemos. Eu passara o dia inteiro editando o vídeo-documentário do trabalho de conclusão de curso com mais duas amigas no meu apartamento. Fizemos o almoço, lavamos a louça e acompanhamos animados, o desempenho da seleção. Decorridos os 90 minutos e seus acréscimos, não demorou muito e encerramos as atividades. Em pouco tempo, estava na internet e recebia o convite para conhecê-lo.
Controlando a ansiedade, tomei mais que depressa o caminho do chuveiro, escolhi uma roupa bacana que não ficasse nem muito alinhada, nem muito simples, e desci para esperá-lo. Ele morava relativamente próximo, e logo vi seus passos firmes em um tênis escuro se aproximar. Não gosto de ficar descrevendo os traços físicos das pessoas, parece que a estamos pondo à venda, mas do que me cabe relatar, posso dizer que ele tinha um sorriso meigo, um braço forte e uma mão sensível. Caminhamos um pouquinho e ele sugeriu que conversássemos no banco do ponto de ônibus. Ali? Não! Se não se importa, vamos subir, afinal, pra que serve morar sozinho?
Abrindo a minha casa, abria um pouco da minha vida também. Permitia àquele quase estranho, o acesso aos registros da minha história, na mobília, na organização paranóica do apartamento, no estilo da decoração, e claro, nas fotografias da família. Mas estava disposto a compartilhar. Contando que ele não considerasse aquilo, de minha parte, uma segunda intenção do nosso encontro. Claro que eu desejava algo mais daquela noite, mas poderíamos ir devagar. Ele sentou numa cadeira e eu sentei ao lado. Que nervoso! Olhava para seu rosto e só conseguia rir. Nem lembrei de ligar a tevê, mas quem iria se ligar em qualquer transmissão com um programa bem melhor do lado?
Na pressa, só tinha iogurte de graviola para oferecer. Mas aos poucos a conversa fluiu. Falamos de convivência e dos atritos na casa da avó dele, da sua mãe que mora no Rio, de sua relação com os primos mais novos, e claro, da vida oculta que a família ainda não sabia, mas que ele também não fazia questão de esconder. Pincelei alguns pontos da minha vida, revelando a minha completa inexperiência, e logo estávamos sem assunto. Mãos em leve fricção pela coxa. Até que encontrei coragem de tocar seus dedos. O que é um tocar de dedos? Nada. Mas ali significava cruzar limites, atravessar fronteiras, dar vida e forma à minha essência mais verdadeira sem culpas.
E tão logo senti os contornos da sua palma forte e leve sob meus dedos, senti sua outra mão a percorrer alguns fios do meu cabelo pela nuca. Não resisti e fui explorar sua região também. Como era diferente do pescoço feminino. Não havia a suavidade dos traços característicos das mulheres. Havia outro desenho, que me provocava jubilosas sensações pelo corpo. Foi ao me envolver nesse contato que quando percebi, estava mergulhado em seus lábios. E como era bom beijar! Não era o primeiro homem que eu beijava, mas com certeza o primeiro a quem me entregava de verdade. Nos levantamos e continuamos naquele estado. Braços e cabeças em constantes movimentos, quase numa dança íntima. E eu nunca tinha dançado antes com outro homem, nunca tinha abraçado assim. Em algum lugar dentro de mim, senti que minha alma dava pulinhos de alegria.
Foi quando ele me perguntou se poderia conhecer meu quarto. Como negar tal pedido? Deitado na cama, ele se aninhou em mim, acariciou meu rosto, afagou meu cabelo e me cobriu de beijos. Fiquei ali contornando seu rosto, as entradas do seu cabelo, suas orelhas, sentindo a textura da sua pele, examinando cada minúcia, enquanto ele, de olhos fechados, relaxava. Deus, como aquilo me deixava feliz! Queria gritar ao mundo a minha felicidade. Queria ligar para minha mãe apenas para informar a indescritível alegria que emanava do coração do seu filho naquele momento. O mundo poderia acabar desde que eu estivesse ali com ele. Como precisamos de pouco para ser feliz. De repente, seu celular toca. Um amigo o convidando para tomar um chopp.
- Não, outro dia. Tô bem melhor aqui.
Respeitando sempre minha inexperiência, se propôs a me mostrar algo. Me levou até a parede, me roçou, me amassou, me deixou sem ar e falou: “te apresento o sarro”. Caímos na gargalhada. Mas com a hora avançando, ele precisava ir embora. Não, sua presença me fazia tão bem. Não queria mais aquela velha solidão. Mas como conseguir isso? Antes tivesse parado aí, mas a sede foi mais forte. Minha mão deslizou até sua virilha e em poucos minutos estávamos despidos sobre a cama, buscando ver nossa fonte de mais intenso prazer jorrar. Banhados pelo orvalho, outro processo começou a se operar em mim. Aquele estado de completa satisfação foi abrindo a porta para as inconstâncias.
Bastou ele sair e a preocupação tomou conta de mim. Por que tínhamos que ter manchado aquela experiência única com a precipitação? Como me envolver assim de novo com um desconhecido? Não bastavam as últimas consequências? Olhei para o tarja preta na escrivaninha e tomei logo dois. Abel me ligou nos dias seguintes, mas meu estado de espírito era um poderoso repelente. Meu ritmo era outro, eu sabia. E precisei de três meses para entrar em contato de novo, até descobrir que o tempo dele também não era o mesmo. Perdi a chance de desenvolver uma produtiva relação. Mas quem domina o psicológico? Naqueles poucos minutos ao lado de Abel na cama, eu conheci o amor.

março 24, 2012

Investida [parte III] - Desfecho

Gay Incomum abre a porta do apartamento e Juliana surge.

Juliana - (sorridente) Oi?

Gay Incomum - (sorrindo) Oi! Que surpresa!

Eles se abraçam e seguem para o quarto dele. Juliana senta na cama. Gay Incomum a olha e senta também.

Juliana - Deixa o MSN aberto que eu tô esperando uma amiga me confirmar um concurso que vai ter na cidade dela.

Gay Incomum - Pode abrir.

Juliana senta diante do computador, abre o MSN e depois olha para Gay Incomum.

Juliana - A gente não conversou mais depois daquela noite.  (senta na cama e olha para ele) Você mudou.

Gay Incomum - Pra melhor ou pra pior?

Juliana - Primeiro pra pior e depois pra melhor. Mas eu sei que aconteceu alguma coisa com você e que foi depois do que houve entre a gente. Tô certa?

Gay Incomum - Se refere àquela tentativa frustrada? É, ela mexeu comigo sim.

Juliana - Eu sabia! Mas mexeu em que sentido?

Gay Incomum - Acho que eu não consegui corresponder, né?

Juliana - Ah, mas isso é normal. Acontece. Mas foi só por isso?

Gay Incomum - Pelo quê mais?

Juliana - Ah, sei lá! Me diz você.

Gay Incomum - Foi isso!

Juliana - Tá! Então se eu lhe der um beijo agora... (se aproxima dele) ...tá tudo certo?

Gay Incomum ri e se afasta.

Gay Incomum - Quando eu viajei pra casa, eu pensei muito no que a psicóloga me falou e em tudo o que eu tenho feito. E eu cheguei a conclusão que eu preciso ser sincero comigo mesmo. Preciso parar de ser o que os outros querem que eu seja e me escutar de verdade.

Juliana - E se escutar inclui não ficar comigo.

Gay Incomum - Eu tô revendo alguns conceitos.

Juliana - Não tem algo mais que você queira me contar? Eu tenho medo de falar e você se isolar de novo.

Gay Incomum - Fala! Garanto que aguento.

Juliana - É sobre o que eu te perguntei naquela noite. Sobre... você... ser gay.

Gay Incomum - Você acha que eu sou?

Juliana - Você é?

Gay Incomum a olha e sorri.

Juliana - Eu tenho vontade de ficar com mulher. É... curiosidade! Mas não deixo de gostar de homem. Será que eu sou bi? (solta uma gargalhada) Mas eu entendo o seu medo de falar alguma coisa. A gente sempre faz estardalhaço quando descobre que fulano é gay. Mas pra mim não tem diferença nenhuma. Só o fato que eu vou sair perdendo se você for. Se bem que eu sempre tive vontade de ficar com um gay pra dizer: eu fiz aquele cabra virar homem. (ri) Então, eu não vou desistir fácil.

Gay Incomum - Eu adoro essas nossas conversas.

Juliana - Eu também. Por mim ficava o dia e a noite conversando.

Gay Incomum - Se quiser pode dormir aqui.

Juliana - Não ia dar certo... (ri) Mas vem cá, quando eu sentir vontade de te beijar, como agora, eu vou poder? Uma amizade... colorida. Só um pouquinho.

Gay Incomum - A gente pode estudar o caso. (ri) Ah, deixa eu te mostrar uma coisa.

Juliana - (brinca) Eu já vi.

Gay Incomum - (ri e vai até o PC) É um vídeo.

Gay Incomum mostra um vídeo dele dançando lambada com a prima aos 6 anos.

Juliana - Lambada?

Gay Incomum - É. Um dos meus segredos de infância. Não tão mais assim.

Juliana - Eu também dancei lambada quando eu era criança.

Gay Incomum - Sério? Então vamos dançar.

Gay Incomum pega Juliana e eles rodopiam alguns passos da música aos risos. Juliana quase cai em cima da escrivaninha. Gay Incomum a segura e ela o beija, subindo a camisa dele. Gay Incomum ri.

Juliana - Que foi?

Gay Incomum - Não vai adiantar. Eu sei até onde eu posso chegar.

Juliana - E já chegou ao limite? Eu não consegui te excitar nem um pouquinho? (ri)

Gay Incomum - Um pouquinho. Mas esse pouquinho não é suficiente.

Juliana - Ai! Então é isso mesmo. Você é gay.

Gay Incomum - Digamos que tô começando a aceitar o fato sem medo.

Juliana o olha fundo e sorri carinhosamente.

Juliana - Que bom! (o abraça) Só assim você vai conseguir ser feliz de verdade.

Gay Incomum sorri abraçado a ela.

março 22, 2012

Investida [parte II] - Na cama

Juliana pára o carro em frente ao condomínio do Gay Incomum.

Juliana - Entregue!

Gay Incomum - É! Até que foi divertido lá, né?... Boa noite!

Juliana - Não quer mesmo terminar a nossa conversa, né?

Gay Incomum - Não terminamos ainda?

Juliana - Ah, tudo bem. Se você vai ficar fugindo do assunto, eu prefiro ir embora mesmo.

Gay Incomum - Eu não tô fugindo do assunto.

Juliana - Tá, e você sabe disso. Eu só quero que você olhe no meu olho e diga que quer somente a minha amizade. Aí, eu esqueço que pensei alguma vez que a gente podia ter algo.

Gay Incomum a olha inseguro, sem querer magoá-la e sem coragem de ser sincero.

Gay Incomum - Ah, Juliana!... Eu gosto de estar com você, sim. Gosto mesmo! Acho que nunca gostei tanto de ficar na companhia de uma garota assim. Me sinto bem. Mas num sei se isso é maior que a amizade. Aliás, nem sei se isso é mais que amizade. ... O que foi?

Juliana - É que eu acho que é a primeira vez que você é direto comigo em algum assunto. E isso é um bom começo. Eu sei que você tem seus medos, suas dúvidas, mas em mim você pode confiar. Nós podemos passar por isso juntos.

Ela se aproxima dele aos poucos e o beija. Gay Incomum abre o olho e olha confuso.

Juliana - Não quer me convidar pra subir?

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Luz apagada no quarto do Gay Incomum. Juliana e ele se beijam. Ela o beija ardentemente no pescoço, no rosto, na orelha... Gay Incomum olha tenso e a beija no pescoço também.

Juliana - Tá nervoso? Relaxe! Esqueça os problemas, as preocupações... Se entregue.

Juliana começa a levantar a camisa dele e em seguida, tira. Nervoso, Gay Incomum passa a mão por dentro da blusa dela, e ela mesma tira a blusa e o sutiã. Ele olha estático para os seios dela.

Juliana - (o beijando) Pega!

Gay Incomum passa as mãos nos seios dela, enquanto ela pega no botão da calça dele. Ele se afasta um pouco. Ela abre o botão, desce o zíper, tira a calça dele e em seguida, tira a sua saia. Ela o abraça novamente o beijando e o sugando, e passa a mão na cueca dele. Gay Incomum se afasta rapidamente. Ela o olha e senta na cama.

Juliana - Vem aqui!


Gay Incomum vai até a cama e senta. Ela o beija e deita com ele na cama, passando a mão na cueca dele.

Gay Incomum – Não... Tenho vergonha!

Juliana - Vergonha de quê? Você tem é muito grilo na cabeça. Sexo é uma coisa tão natural. Deixa eu tirar sua cueca.

Gay Incomum olha perturbado. Ela se adianta, fica por cima dele e tira a cueca. Ele vira o rosto aflito.

Juliana - Quer que eu faça alguma coisa pra te animar?

Gay Incomum - Ah... num sei...

Juliana começa a se enroscar nele.

Gay Incomum - Não, Juliana! Juliana!

Ele senta na cama se encobrindo com o travesseiro.

Gay Incomum - Não tá funcionando.

Juliana - É porque você não tá relaxado. Deixa eu te relaxar. Vem!

Juliana o abraça, roça seu corpo no dele, passa a mão pelo corpo dele, faz ele passar a mão no dela... Até que ele se senta de novo na cama.

Gay Incomum - Não!

Juliana senta suspirando. Ela tenta se recompor e olha para ele.

Gay Incomum - Eu tô muito nervoso. Não tô conseguindo me concentrar. Nunca fiz também, aí...

Juliana - Não tem que se desculpar. Acontece. Ainda mais numa primeira vez... aos vinte e quatro. Eu é que vou ficar no fogo agora.

Gay Incomum - Mas você ainda pode dormir aqui.

Juliana - Não! Eu vou pra casa tomar um banho de água fria e dormir. Mas... eu posso te fazer uma pergunta? Você jura que não vai ficar chateado comigo?

Gay Incomum - (tenso) Claro!

Juliana - Você é gay? Seja sincero.

Gay Incomum - (nervoso) Não!

Juliana - Não?

Gay Incomum - (inseguro) Não!

Juliana - Tudo bem! Eu vou me trocar pra sair.

Ela se levanta e começa a pegar suas roupas. Gay Incomum a olha perturbado.

Juliana - Não tá chateado comigo, né?

Gay Incomum - (sorri forçado) Não!

Ela se veste e o olha.

Juliana - Tô indo! Tchau! (o beija e sai)

Gay Incomum - Tchau!

Gay Incomum fica imóvel na cama, escuta a porta bater, olha para a janela e se aproxima. Através da janela, ele vê Juliana indo até o carro e saindo. Em seguida, ele olha para dentro, se aproxima da cama, senta, põe as mãos no rosto e deixa as lágrimas banhá-lo. 

março 17, 2012

Investida [parte I]

Uma turma se diverte e bebe na sala de um apartamento. Juliana passa por eles com um copo de cerveja na mão e segue até a varanda, onde está o Gay Incomum.

Juliana - Até aqui você arranja um jeito de ficar sozinho, né?

Gay Incomum - Estava só olhando a rua.

Juliana - Não tem muito o que se vê. (ri) Bebe um pouquinho.

Gay Incomum - Eu já bebi lá dentro.

Juliana se debruça sobre a varanda, aprecia a bebida e olha a rua.

Juliana - Nossa, eu fico morta de vergonha quando alguém comenta alguma coisa sobre nós dois. Se uma conversa dessas chega aos ouvidos de Fernando... eu não gosto nem de imaginar.

Gay Incomum - O que você acha que ele faria?

Juliana - Prefiro não pensar nisso. Só garanto que a reação dele não seria das mais tranquilas. Mas e Lisa, se soubesse desses assuntos?

Gay Incomum - Me odiaria pra sempre.

Juliana - Eu não sei por que você ainda está com ela. Você mal fala dela. Eu sei mais dos Beatles do que dela por você.

Gay Incomum - Isso não quer dizer nada. Você também não vive falando de Fernando pra todo mundo. Se esse é o critério pra medir a relação, então não parece que você também gosta dele.

Juliana - Eu gosto! Muito! Só que ele está longe... A gente se vê pouco... Mas eu não tenho a menor pretensão de terminar com ele.

Gay Incomum - Interessante. Depois de tudo que você falou naquele verdade ou consequência, eu não pensei que ele ainda fosse tão importante pra você.

Juliana - Ai, eu falei tanta coisa naquele jogo. Incomum, sério... O que você sente por mim?

Gay Incomum - É mais uma rodada do jogo?

Juliana - Não foge do assunto! Às vezes eu acho que você não sabe o que quer. Fica mandando tantos sinais confusos que meu radar entra em pane. Eu falei pra você lá em casa que sentia algo muito especial por você, mas eu preciso saber se você também sente o mesmo por mim. Porque tem muita coisa em jogo aqui. Tem Fernando, tem Lisa. E tem a nossa amizade, que eu não quero perder por nada.

Gay Incomum - A nossa amizade é um ponto importante.

Juliana - Você tem medo que a gente perca? 

Gay Incomum - Nós construímos uma coisa tão linda, tão bacana, que eu não queria estragar.

Juliana - Da minha parte eu garanto que a gente não vai perder nada.

Gay Incomum - É fácil falar agora. Mas depois eu quero ver.

Juliana - Você está complicando as coisas.

Gay Incomum - Não! Estou sendo realista.

Juliana - Tá, mas eu quero tentar! Mas você parece que não.

Gay Incomum - Não é isso.

Juliana - E é o quê então?

Gay Incomum a olha confuso. Pedrinho entra correndo na varanda. Marlene entra logo atrás.

Marlene - Pedrinho, vem pra cá! (os vê) Oi, vocês estão aí? Nem tinha visto. Esse menino não me deixa quieta. Pedrinho!! (olha em volta) Ah, eu gostei daqui. É bem ventilado, né?

Juliana - É! Vem pra cá. Chama João Pedro. A gente coloca umas mesas aqui.

Marlene - Não, você acha que ele vai sair de lá agora? Abriram as bebidas ainda há pouco. Eu tenho medo de não conseguir arrancá-lo daquela sala quando a gente for embora. E eu que fique aqui supervisionando esse pestinha, porque se deixar já viu, né? Ele faz a festa dele aqui. Vem, Pedrinho! Vamos lá pra dentro! (pega na mão de Pedrinho) Vão pegar mais bebida. (olha insinuando) Aí depois vocês voltam pra cá de novo.

Juliana - (sem graça) Não, a gente já está indo.

Marlene e Pedrinho saem. Juliana e Gay Incomum se olham sem jeito.

março 12, 2012

Aos grandes de cabelo

Sentei em um dos degraus, exausto. Cinco minutos de descanso! Dia danado de puxado! E no caminhão, o trabalho ainda se fazia urgir. Descarregar todos aqueles móveis, subir três andares, empurrar geladeira, cama, fogão, armários... era demais para meus franzinos músculos. Eles deviam estar atribulados com o exaustivo esforço que era cobrado a eles sem sobreaviso. Mas ainda assim, se manteram firmes no propósito. Desde as 3h da matina eu já havia percorrido mais de 500 km, ajudado a descarregar a mudança da minha amiga, e quase 10h da noite ainda não terminara de subir com todos os meus móveis, apesar do auxílio da minha mãe, do motorista e de Leandro, que passaria a morar comigo.
Os segundos que dispuséssemos de um merecido descanso eram verdadeiras dádivas, já que com o horário adentrando a noite, tínhamos que correr para retirar o carro da via de circulação do condomínio. Fome, sede, suor... sentado no degrau de acesso ao bloco, mão na testa, coração em disparado, nervos do braço em sutil descontrole, vislumbrei o escuro da noite em volta com argúcia atenção, e eis que o último lugar aonde eu arrastaria meus pensamentos naquela hora, se fez presente.
Da entrada do condomínio, um grupinho de quatro rapazes surgiu. Jovens entre seus 15 e 17 anos, falantes. A princípio, não lhes dei o mérito da apreciação, mas tão logo meus olhos encontraram os fios claros e compridos que caíam da cabeça até o dorso do ombro, não resisti à atração. Desde pequeno, sempre achei interessante os garotos que usavam cabelo longo. Parecia um tipo de resistência à sociedade, que atribui conveniente tão somente às mulheres o uso espontâneo das longas madeixas. O garoto que o usa se sobressai, garante de longe, a sua individualidade. E foi exatamente por isso, que distingui o garoto de cabelo longo, entre os quatro que passavam por nós.
Ele estava longe de ser um astro do cinema em seu olhar inocente e sorriso de menino, mas aos meus olhos ele ganhara o papel principal. Confesso, que um certo constrangimento emergiu quando nossos olhos se bateram. À época, eu também usava cabelo longo, e quando dois cabeludos se cruzam, surge sempre um choque de identidade. É preciso garantir a individualidade. A primeira reação é assegurar-se do espaço em volta. Sentindo-se seguro, passa-se a reconhecer o outro, e depois de analisado cada fio a mais ou a menos do desconhecido, ele é aceito em sua totalidade.
O dono da farta cabeleira e seus companheiros cercaram-se do modesto caminhão que transportava a mudança e um risinho saiu. Deboche? Minha mãe demonstrou o quanto aquilo a tinha atingido ao esboçar seu gesto reprovativo com a cabeça. Eles logo se foram. Com desdém ou não, me levantei e olhei ainda uma vez mais para o meu parceiro de penteado. Ele não parecia uma má pessoa. Na certa, deixara-se envolver no humor negro dos amigos. Ao menos, não visualizei nenhuma maldade em torno dele, como se eu tivesse alguma sensibilidade mediúnica. Era a danada da “platonice” se instalando. Mal me alojara na nova moradia e já ganhara uma dor de cabeça pro coração. Estava perdido!
Os primeiros dias na nova cidade eram imprecisos. O único lugar para onde conseguia me deslocar era a faculdade. Sequer sabia o destino do ônibus que passava na rua. O condomínio por si só já me era uma cidade. Não foi difícil encontrar novamente o garoto do cabelo incomum circulando por ali. Da janela do meu terceiro andar, passei a espreitar cada passo que ele e seus cabelos dessem. O binóculo da infância nunca foi tão útil. Estava pateticamente viciado em admirá-lo. E quando o acaso nos jogava ao embate do outro, eu ficava mais desconsertado que relógio quebrado. Ansiava loucamente conhecer mais a fundo suas expressões faciais, a textura de seus fios, o contorno de suas mãos, mas meu cérebro enviava sempre aos meus olhos o comando “fuga”, a menor aproximação.
Comecei a descobrir algumas amizades pelo condomínio. Mesmo os mais eremitas conseguem estabelecer alguns contatos e as amizades surgem de onde menos esperamos. E certa noite, ao olhar da janela, vi uma turma de garotos jogando bola no gramado da frente. Entre eles, ele! Visualizei os meus novos amigos conversando num banquinho ao lado, e sem perder tempo, fui me juntar. Agora tinha a visão privilegiada do alvo e a total permissão para observar.
- Você joga futebol? – Minha mais nova amiga me perguntou.
- Não! Mas acho lindo quem joga.
Não fui totalmente desonesto com a verdade. É só uma questão de ambiguidade.
- Você se parece um pouco com Fabrício.
Quem? Eu?
- O cabelo, talvez. – Frisou o meu outro amigo.
Ah, então esse era o nome dele? Fabrício! Que privilégio me parecer com semelhante objeto de desejo meu. Ali a poucos metros de mim, Fabrício, o garoto que me ganhara a mente, corria, marcava e driblava, sem imaginar os olhos que lhe lançavam profunda estima. Como sempre acreditando na capacidade da água em tornar tudo mais harmonicamente perfeito, o suor que lhe escorria em bicas, transmitia ainda mais poesia ao seu cabelo. O movimento dos fios molhados ao correr contra o vento me era tão probo, que intimamente o senti imaculado, sacro, intocável. De repente o olhava como um pai, no máximo. Sim, era assim que o via, como um filho, que viria ao fim da partida para casa e teria a minha proteção contra as mazelas do mundo.
Obviamente que isso era fruto da minha mente fantasiosa. E ao fim do jogo, Fabrício seguiu seu caminho. Contudo, a visão de esmero que ele simbolizava me acompanhou por um longo período. Nas reflexivas tardes de domingo na janela, no ônibus lotado para casa, na fila da padaria. Até o dia em que ele apareceu com o cabelo cortado. Foi nítida a mudança que me acometeu. Consegui lhe fixar o olhar sem nenhum embaraço, e como por magia, desapareceu todo o encanto que antes existia. Ele parecia tão comum, mais que isso, imperceptível. De fato, não era belo, não tinha atrativos que despertassem a atenção de alguém. Com o cabelo foi embora também todo seu magnetismo. E em pouco tempo era só mais um a circular pelo condomínio. Que feitiço se havia operado? Ah, enigmáticos fios! Quantas sensações são capazes de produzir em um único miolo. Talvez um dia possa compreender a origem de tamanho apreço. E para não perder o hábito, esses dias um loiro de cabelo amarrado cruzou meu caminho no shopping. Dois segundos depois o estava perseguindo para partilhar um pouquinho mais a presença do seu aliciante pelo


COMUNICADO!
GALERA, DESCULPA O SUMIÇO PELOS BLOGS DE TODOS. É QUE ANDO SEM NET HÁ ALGUMAS SEMANAS. MAS QUANDO ISSO FOR RESOLVIDO, VOLTAREI À ATIVA. ABRAÇOS!!!

fevereiro 27, 2012

Aquela noite no apartamento

Eu estava no quarto estudando ou lendo alguma coisa sobre o colchão. Breno abriu a porta.
- A gente vai trazer uma menina pra comer aqui. Você se importa?
Fazia pouco mais de dois meses que a gente estava dividindo apartamento. Apesar dele ser da minha cidade, eu não o conhecia até ir morar com ele. Minha mãe querendo que eu me preparasse melhor para o vestibular, tratou de providenciar um lugar para mim na capital. O contato com os pais de Breno se mostrou muito propício e logo eu estava escalado para dividir apartamento com ele no ano seguinte. Breno era três anos mais novo que eu, estava no primeiro ano do ensino médio, mas demonstrava uma experiência superior à minha, em muitos aspectos. Até esse dia eu não sabia que o sexo também estava incluído.
- Não.
A minha pequena resposta foi banhada de dúvidas. Eu deveria me opor? Se o fizesse não seria o chato? Que horas sua namorada iria chegar? Passaria a noite? Eu deveria dormir na sala então. Mas espere! Ele não falou namorada, foi a minha ingenuidade que associou, e havia uma outra pessoa na frase. Enfim, o tempo era curto demais para concatenar todas essas ideias e responder. Quando minha mente ainda processava, a resposta já tinha saído.
Em pouco tempo, chegou um amigo dele com outro menino de no máximo 12 anos. O palco era preparado. Quando a campainha soou novamente, era o jantar. Fui convidado a me retirar do quarto. Na sala, davam-se as preliminares. A moça muito espontânea, ria e falava animadíssima conosco, certa que teria uma noite em dose tripla, com direito a sobremesa ainda.
Não demorou muito e o amigo de Breno estava trancado com ela no quarto. Depois só se ouviam os gemidos. Jesus! Nunca tinha escutado aquilo. Tentei manter a aparência de normalidade, enquanto meu coração gay acelerava naquele ninho de héteros. Fui ao banheiro lavar o rosto. Na volta, Breno me convidou para apreciar a desenvoltura do amigo pelo buraco da fechadura. Tentei evitar para não me mostrar muito receptivo àquela situação, mas a curiosidade acabou me levando, e vi com alguma dificuldade, aquele traseiro branco se movimentando no quarto.
Quando abriram a porta, ela saiu agitadíssima enrolada numa toalha e foi à cozinha beber água, enquanto Breno perguntava ao amigo sobre a experiência. Naquela altura, dava para ver nitidamente o volume que se formava em seu short de nylon branco. Mas a minha inocência achava que o show tinha acabado. Só quando a moça resolveu espantar o calor desenrolando a toalha enquanto desfilava pela sala, eu percebi que a noite ainda era um recém-nascido.
Era impressionante a saliência do menino de 12 anos que o amigo de Breno tinha levado. Se ela permitisse, ele conheceria o sexo ali mesmo. Claro que nenhum deles concordava com isso. E eu me perguntava o que ele estava fazendo ali.
Enquanto Breno se preparava para entrar em cena, fiquei sozinho na sala com aquele furacão. Ela sentou ao meu lado, abriu desinibida a toalha, me olhou com um sorriso safado e veio se aninhando para cima de mim. Eu, imediatamente, me afastei e usei a mesma desculpa que havia dado a Breno para não participar da festinha.
- Eu não quero trair minha namorada. Eu gosto muito dela e se ela souber disso aqui, já era.
- Entendo – com a mão na minha coxa.
Felizmente, Breno chegou e a levou para o quarto. O moleque não desgrudava da fechadura. O outro bebia cerveja no balcão da cozinha, relaxado. Imaginei até que horas aquela farra iria? Naquele rodízio, eu ia acabar na berlinda. Impaciente, talvez desesperado definisse melhor, resolvi sair do apartamento. Quando Breno terminou sua reunião, entrei no quarto, peguei o boné e saí.
Fui caminhando em busca de algum lugar onde pudesse passar algumas horas, mas não tinha nenhum em mente. Foi aí que me lembrei da casa de umas colegas do cursinho. Elas tinham me dado o endereço, mas ainda não tinha ido lá. Acabei provocando susto nelas com aquela visita inesperada. Mas depois nos entendemos e conversamos muito ainda. Até elas perceberem que já estava ficando tarde e eu não demonstrava a menor intenção de ir embora. Sem poder falar sobre o bordel que tinha se transformado meu apartamento, me vi na obrigação de ir embora.
Quando retornei ao apê, encontrei Breno, o amigo e o moleque na sala. Que bom! Ela finalmente foi embora. Mas fui impedido de entrar no quarto. Alguém estava trancado lá com a dita. Um terceiro! Depois que forcei o trinco, a porta se abriu e um garoto brincalhão saiu pelado, exibindo seus genitais para que todos parassem de espiar. A moça não gostou e fechou a porta irritada. Uau! E eu nem olhei pro brinquedo com medo de me denunciar.
Logo em seguida, ela foi tomar banho com sua sobremesa. O moleque, inconformado por não ter tido sua chance, se jogou pelado debaixo do chuveiro com ela. Eu só ouvia as gargalhadas a cada eminência dele. Mas finalmente o cabaré encerrou. Os amigos de Breno saíram e a fogosa se despediu, desejando repetir mais vezes. Não sei se ele a pagou, ou se, de repente, ela era somente uma amiga dedicada. Fui pro quarto e troquei o pano do meu colchão. Tinha uma mancha bem no meio dele. Nojo! Breno então se aproximou sondando a minha reação.
- Você ficou chateado?
Eu fui claro que aquela situação não iria mais se repetir. Mas chateado mesmo quem iria ficar era ele com o desenrolar dessa história. Depois de ter meu espaço de volta, eu poderia ter esquecido aquela noite e seguido em frente, mas não foi o que aconteceu. As impressões do que se passou ficaram na minha cabeça por muito tempo. E cada detalhe ganhou uma dimensão inimaginável. Logo vieram os grilos. E se aquela menina tivesse alguma doença? E se Breno tivesse pegado? E se ele me transmitisse ali no convívio? Me sentia traindo a confiança da minha mãe e da minha namorada mesmo, muito embora a grande traição fosse simplesmente namorá-la. Liguei para minha mãe e contei tudo num desabafo. Precisava ouvir dela que eu ia ficar bem. E não satisfeito, mandei uma carta para a namorada e ainda ressaltei que tinha me mantido fiel a ela.
A reação da minha mãe foi cautelosa. Iria falar com os pais de Breno, mas não queria me envolver. Então bolou uma ideia que acabou prejudicando mais gente. Depois de ir nos visitar, ela fingiu para Breno que a lavadeira tinha lhe contado. Na volta, conversou com os pais dele, mas se decepcionou com a naturalidade que eles receberam a informação. Era coisa da idade! E ainda sobrou para mim, o único que não tinha saboreado a morena. A partir daí, ela maquinou secretamente a minha saída do apartamento. Depois de acertar um novo local para eu morar sozinho, pagou o último mês adiantado e comunicou a saída. Naquele dia Breno chorou como um moleque na nossa frente. Sua preocupação era encontrar outro para dividir o apê. E sua reação se somou à raiva, depois de confrontar a lavadeira e descobrir que minha mãe tinha mentido. Eu me comovi com a cena. Mas a coisa estava feita. Uma situação que começou errada e seguiu errando, não poderia chegar ao fim de outra maneira. Breno me odeia por isso tudo até hoje.