fevereiro 27, 2012

Aquela noite no apartamento

Eu estava no quarto estudando ou lendo alguma coisa sobre o colchão. Breno abriu a porta.
- A gente vai trazer uma menina pra comer aqui. Você se importa?
Fazia pouco mais de dois meses que a gente estava dividindo apartamento. Apesar dele ser da minha cidade, eu não o conhecia até ir morar com ele. Minha mãe querendo que eu me preparasse melhor para o vestibular, tratou de providenciar um lugar para mim na capital. O contato com os pais de Breno se mostrou muito propício e logo eu estava escalado para dividir apartamento com ele no ano seguinte. Breno era três anos mais novo que eu, estava no primeiro ano do ensino médio, mas demonstrava uma experiência superior à minha, em muitos aspectos. Até esse dia eu não sabia que o sexo também estava incluído.
- Não.
A minha pequena resposta foi banhada de dúvidas. Eu deveria me opor? Se o fizesse não seria o chato? Que horas sua namorada iria chegar? Passaria a noite? Eu deveria dormir na sala então. Mas espere! Ele não falou namorada, foi a minha ingenuidade que associou, e havia uma outra pessoa na frase. Enfim, o tempo era curto demais para concatenar todas essas ideias e responder. Quando minha mente ainda processava, a resposta já tinha saído.
Em pouco tempo, chegou um amigo dele com outro menino de no máximo 12 anos. O palco era preparado. Quando a campainha soou novamente, era o jantar. Fui convidado a me retirar do quarto. Na sala, davam-se as preliminares. A moça muito espontânea, ria e falava animadíssima conosco, certa que teria uma noite em dose tripla, com direito a sobremesa ainda.
Não demorou muito e o amigo de Breno estava trancado com ela no quarto. Depois só se ouviam os gemidos. Jesus! Nunca tinha escutado aquilo. Tentei manter a aparência de normalidade, enquanto meu coração gay acelerava naquele ninho de héteros. Fui ao banheiro lavar o rosto. Na volta, Breno me convidou para apreciar a desenvoltura do amigo pelo buraco da fechadura. Tentei evitar para não me mostrar muito receptivo àquela situação, mas a curiosidade acabou me levando, e vi com alguma dificuldade, aquele traseiro branco se movimentando no quarto.
Quando abriram a porta, ela saiu agitadíssima enrolada numa toalha e foi à cozinha beber água, enquanto Breno perguntava ao amigo sobre a experiência. Naquela altura, dava para ver nitidamente o volume que se formava em seu short de nylon branco. Mas a minha inocência achava que o show tinha acabado. Só quando a moça resolveu espantar o calor desenrolando a toalha enquanto desfilava pela sala, eu percebi que a noite ainda era um recém-nascido.
Era impressionante a saliência do menino de 12 anos que o amigo de Breno tinha levado. Se ela permitisse, ele conheceria o sexo ali mesmo. Claro que nenhum deles concordava com isso. E eu me perguntava o que ele estava fazendo ali.
Enquanto Breno se preparava para entrar em cena, fiquei sozinho na sala com aquele furacão. Ela sentou ao meu lado, abriu desinibida a toalha, me olhou com um sorriso safado e veio se aninhando para cima de mim. Eu, imediatamente, me afastei e usei a mesma desculpa que havia dado a Breno para não participar da festinha.
- Eu não quero trair minha namorada. Eu gosto muito dela e se ela souber disso aqui, já era.
- Entendo – com a mão na minha coxa.
Felizmente, Breno chegou e a levou para o quarto. O moleque não desgrudava da fechadura. O outro bebia cerveja no balcão da cozinha, relaxado. Imaginei até que horas aquela farra iria? Naquele rodízio, eu ia acabar na berlinda. Impaciente, talvez desesperado definisse melhor, resolvi sair do apartamento. Quando Breno terminou sua reunião, entrei no quarto, peguei o boné e saí.
Fui caminhando em busca de algum lugar onde pudesse passar algumas horas, mas não tinha nenhum em mente. Foi aí que me lembrei da casa de umas colegas do cursinho. Elas tinham me dado o endereço, mas ainda não tinha ido lá. Acabei provocando susto nelas com aquela visita inesperada. Mas depois nos entendemos e conversamos muito ainda. Até elas perceberem que já estava ficando tarde e eu não demonstrava a menor intenção de ir embora. Sem poder falar sobre o bordel que tinha se transformado meu apartamento, me vi na obrigação de ir embora.
Quando retornei ao apê, encontrei Breno, o amigo e o moleque na sala. Que bom! Ela finalmente foi embora. Mas fui impedido de entrar no quarto. Alguém estava trancado lá com a dita. Um terceiro! Depois que forcei o trinco, a porta se abriu e um garoto brincalhão saiu pelado, exibindo seus genitais para que todos parassem de espiar. A moça não gostou e fechou a porta irritada. Uau! E eu nem olhei pro brinquedo com medo de me denunciar.
Logo em seguida, ela foi tomar banho com sua sobremesa. O moleque, inconformado por não ter tido sua chance, se jogou pelado debaixo do chuveiro com ela. Eu só ouvia as gargalhadas a cada eminência dele. Mas finalmente o cabaré encerrou. Os amigos de Breno saíram e a fogosa se despediu, desejando repetir mais vezes. Não sei se ele a pagou, ou se, de repente, ela era somente uma amiga dedicada. Fui pro quarto e troquei o pano do meu colchão. Tinha uma mancha bem no meio dele. Nojo! Breno então se aproximou sondando a minha reação.
- Você ficou chateado?
Eu fui claro que aquela situação não iria mais se repetir. Mas chateado mesmo quem iria ficar era ele com o desenrolar dessa história. Depois de ter meu espaço de volta, eu poderia ter esquecido aquela noite e seguido em frente, mas não foi o que aconteceu. As impressões do que se passou ficaram na minha cabeça por muito tempo. E cada detalhe ganhou uma dimensão inimaginável. Logo vieram os grilos. E se aquela menina tivesse alguma doença? E se Breno tivesse pegado? E se ele me transmitisse ali no convívio? Me sentia traindo a confiança da minha mãe e da minha namorada mesmo, muito embora a grande traição fosse simplesmente namorá-la. Liguei para minha mãe e contei tudo num desabafo. Precisava ouvir dela que eu ia ficar bem. E não satisfeito, mandei uma carta para a namorada e ainda ressaltei que tinha me mantido fiel a ela.
A reação da minha mãe foi cautelosa. Iria falar com os pais de Breno, mas não queria me envolver. Então bolou uma ideia que acabou prejudicando mais gente. Depois de ir nos visitar, ela fingiu para Breno que a lavadeira tinha lhe contado. Na volta, conversou com os pais dele, mas se decepcionou com a naturalidade que eles receberam a informação. Era coisa da idade! E ainda sobrou para mim, o único que não tinha saboreado a morena. A partir daí, ela maquinou secretamente a minha saída do apartamento. Depois de acertar um novo local para eu morar sozinho, pagou o último mês adiantado e comunicou a saída. Naquele dia Breno chorou como um moleque na nossa frente. Sua preocupação era encontrar outro para dividir o apê. E sua reação se somou à raiva, depois de confrontar a lavadeira e descobrir que minha mãe tinha mentido. Eu me comovi com a cena. Mas a coisa estava feita. Uma situação que começou errada e seguiu errando, não poderia chegar ao fim de outra maneira. Breno me odeia por isso tudo até hoje.

12 comentários:

  1. gente do céu!
    vc já tinha me contado essa estória
    mas ela é tão absurda...
    sua reação de medo é absurda!

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  2. Cara, é foda a gente se sentir invadido dessa forma, principalmente qdo não nos vemos capazes de fazer o mesmo.
    A situação mexeu tanto contigo q a convivência com o moleque se tornou insustentável e, cedo ou tarde, vc acabaria dando 1 jeito pra sair disso.
    Só acho que vc mesmo deveria ter dado 1 jeito sem contar pros seus pais. Pedir ajuda a eles seria o último recurso, tipo se o carinha não respeitasse as regras que vcs já deveriam ter estipulado antes ou logo após desse episódio aí, da garota tarada.
    Sujar a cama da gente é punk mesmo. No mínimo, eu teria obrigado o moleque a fazer uma faxina no quarto.

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  3. Pois é, Junnior, isso fez parte da maneira como fui criado.
    O excesso de mimo, de cuidados, me deixou totalmente inseguro. Tudo que acontecia comigo, eu me sentia na obrigação de relatar à minha mãe, porque via nela a pessoa capaz de me proteger contra tudo.
    Se não o fizesse, eu me sentia desprotegido, sofrendo e negando à minha mãe, o direito de me proteger.
    A mente da gente é um oceano profundo, capaz de nos mergulhar nas maiores loucuras.
    Graças ao amadurecimento, a gente consegue vir à superfície. Mas as consequências do que passou, estarão sempre nos acompanhando.

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  4. Penso, mesmo nunca tendo vivido algo similar, q nesta idade e, cada um com as suas perspectivas, é algo "normal" ou, pelo menos, "previsível". Tento me colocar na sua posição e me vejo agindo exatamente como vc agiu. Acho q nesta idade tinha muito de vc em mim. Felizmente o tempo passa e a maturidade vem e tudo isto fica no passado.

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  5. Eike putaria!

    Olha, nunca passei por isso. Graças. Já peguei muita gente na hora do vamo vê sem querer, mas festa de putaria na minha república, never. E eu faria um escândalo, certamente. E com certeza eu seria expulso por ser o diferente :p

    Beijo!

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  6. Eu também teria me sentido muito mal com essa invasão e falta de respeito. Mas não teria contado pra ninguém, por medo da reação.
    Não cabe julgar. Vc fez o que sabia e achava que devia fazer. E a gente aprende com isso, e saberá lidar melhor em futuras situações.
    Quanto ao tal Breno não falar com você, te odiar, foda-se ele! Ele tava errado, e vc não fez nada errado, na minha opinião.

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  7. Caraca... que situação hein...
    Eu nunca passei por algo assim, mas em festas já fui perseguido por uma garota que insistia me "laçar" com uma echarpe!!!

    Mas não sei... gay ou hetero, me parece que você não estava pronto para aquele momento... cada um tem seu tempo e seu "estilo". Confesso que acho que não curtiria algo desse tipo...

    Mas sujar o colchão foi para acabar! Se fosse comigo, era eu que ia odiar ele até hoje! kkk

    AbraçãO!

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  8. Não sei o que pensar... Mas só de vc se sentir incomodado, já acho que a história aconteceu como tinha de acontecer mesmo...

    Abraços!!

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  9. Amigo, eu acho que são fases... no início eu era mais um por ai, durante muito tempo eu apenas lia os blogues e nunca comentava...

    Depois comecei a comentar... afinidades e amizades começaram a surgir, alguns foram para o msn, outros se perderam..

    Do meu blogue, já conheci alguns blogueiros... alguns vi apenas uma vez, outros se tornaram amigos a ponto de viajarmos juntos e nos falarmos todos os dias...

    Bom... se quiser saber mais sobre mim... pode me escrever, será um prazer! Eu adoro uma boa conversa! kkk meu email é algernon.br@gmail.com

    Abração!

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  10. Acredito que somos o produto de nossa criacao e que mudar ou nao nossas atutudes diante de fatos como esse e algo que so vem com o amadurecimento.
    Ah, quantas coisas do passado eu nao teria feito de forma diferente hoje... Assim a e a vida!

    Na minha opiniao suas atitudes ate entao so revelaram a sua inexperiencia e bom carater...

    Como e a sua relacao com sua mae? Senti neste post como se vc fosse proximo e confidente a ela por obrigacao e nao por afinidade...

    Tenho muita afinidade com a minha e conto tudo a ela, a unica coisa que escondi dela por anos e ainda escondo de toda a familia e a respeito da minha sexualidade...

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  11. Nossa, Jardineiro, vc tocou num ponto bem interessante e q eu ainda não tinha parado pra pensar.
    Sou próximo da minha mãe, acho q por uma mistura das duas coisas. Afinidade e obrigação de relatar a ela, os fatos q ocorrem em minha vida.
    Se não o fizer, me sinto negando a ela o direito de me defender, sei lá...
    Complicado!
    Hoje não relato mais tudo.
    Mas creio q quando ela souber da minha sexualidade, dependendo da reação, voltaremos a ser confidentes, ou talvez não. Nunca se sabe!

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  12. Os primeiros dizeres do segundo comentário do Latinha fez-me escrever este comentário, como resultado dum impulso inconsciente de reconhecimento pessoal, quiçá!

    É esta a primeira vez que comento no Blog após algumas leituras, das quais estive tendo um contato com as possibilidades de superação das dores existenciais. E quanta harmonia (talvez ironia) há no acaso de escrever isto enquanto escuto o segundo movimento do último quarteto de cordas de Schubert (http://www.youtube.com/watch?v=1rkmm9MMnrs), que é molhado pelas últimas lágrimas de melancolia deste grande compositor. Talvez todos estes dígitos estejam impregnados por uma subjetividade imperceptível ao autor. De qualquer modo, não o sei. Mas vamos ao que realmente interessa.

    Puxa vida, Gay Incomum! Nunca mesmo estive diante duma situação semelhante a descrita. Não possuo afinidades com minha mãe ou com meu pai, portanto o mais provável seria uma atitude independente baseada na razão do ser. Estabeleço regras e limites a todas as minhas relações para que haja uma convivência pacífica e construtiva. Em minha vida, um caso semelhante ao seu, terminaria em acordos para a estabilidades entre as atitudes de duas personalidades distintas em mesmos meios. No caso de uma nova incompatibilidade ou conflito, ambos os rumos mudariam. Um ou outro trataria de pesquisar novos caminhos (provavelmente eu.

    O Jardineiro fez uma boa observação de seu comportamento. Ele demonstra o quanto de (in)segurança e ao mesmo tempo o desconforto e ceticismo que tens acerca da aceitação e compreensão externa dos fatos internos e secretos de tua alma. É verdadeiramente um conflito de dimensões barrocas, não posso negar! De algo tenho certeza, em seus atos é notável um instinto primário do humano, também comum a vários outros animais.

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